Parece
incrível, mas num passado remotíssimo toda a matéria que observamos hoje no
Universo - distribuída em 100 bilhões de galáxias, cada uma com mais de 100
bilhões de estrelas, dentre as quais o nosso modesto Sol - pode ter estado tão
extraordinariamente concentrada que caberia até com folga na ponta de uma
agulha.
Nesse
mundo, além de toda imaginação, a densidade da matéria atingiria o valor de
1090 quilos por centímetro cúbico - um número que se escreve com o algarismo 1
seguido de noventa zeros. A densidade das rochas comuns existentes hoje na
terra é de apenas alguns gramas por centímetro cúbico. O Universo, então, seria
não apenas superdenso, mas também superquente: a temperatura atingiria o
fantástico patamar de 1031 graus Kelvin - mais de um bilhão de bilhão de bilhão
de vezes a temperatura média do Sol.Por mais inacreditáveis que estas cifras
possam parecer, elas correspondem a uma teoria sobre a origem do Universo aceita em
quase todos os meios científicos do mundo - a Teoria do Big Bang (Grande Explosão). De
acordo com ela, o Universo teria se originado numa explosão apocalíptica entre
15 e 20 bilhões de anos atrás. A situação que descrevemos refere-se a um
instante apenas 10 - 43 segundos após o Big Bang - o algarismo 1 precedido de
42 zeros depois da virgula, - chamado Tempo de
Planck.
Embora
separado do instante inicial por uma fração ínfima de segundo, o Tempo de
Planck não se confunde
com o momento do Big Bang, porque a matéria energia passou por mudanças
dramáticas naqueles pedaços infinitesimais de tempo que se sucedera à origem. O
Tempo de Plack constitui o limite até onde chegam atualmente nossos
conhecimentos teóricos numa viagem regressiva rumo ao marco zero. A partir daí,
ou melhor, antes disso é impossível de ser descrita nos termos dos
conhecimentos atuais daFísica. Podemos especular que, à medida que nos aproximamos
ainda mais desse instante inicial, chamado de estado de singularidade pelos
cientistas, o volume do Universo tende a zero enquanto a densidade e a
temperatura tendem ao infinito.
A Teoria do Big Bang é uma das mais belas
realizações intelectuais do século. Para o seu desenvolvimento contribuíram
dois ramos do conhecimento que, há apenas algumas décadas pareciam muito
distantes: a ciência do macrocosmo, o infinitamente grande, e a ciência do
microcosmo, o infinitamente pequeno. A Cosmologia e a Astrofísica,
por uma lado, e a Física das partículas elementares ou Física subatômica, por outro. Curiosamente,
os pais fundadores do Big Bang não eram nem astrônomos nem físicos de
partículas. Um deles, Alexander Friedmann (1888-1925), era um meteorologista e
matemático russo; o outro, o abade Georges Lemaitre (1894-1966), era um padre e matemático
belga.
Trabalhando
cada qual por seu lado, como tantas vezes acontece na ciência, Friedmann e Lemaitrechegaram
a conclusões muito semelhantes a partir de um desenvolvimento puramente
matemático daTeoria Geral da Relatividade de Albert Einstein (leia artigo na página 58). Einstein acreditava que a atração gravitacional
entre os corpos decorria de uma curvatura do espaço-tempo provocada pela
presença da matéria. Friedmann e Lemaitre partiram das complicadas equações de
campo gravitacional deEinstein e, como
ele, adotaram a hipótese de um Universo, homogêneo no espaço.Mas, ousadamente,
descartaram a idéia de Eisntein de um Universo imutável no tempo. Isso lhes
permitiu chegar, entre 1922 e 1927, a um conjunto de soluções simples para as
equações. O Universo que essas soluções descreviam estava em expansão em todas
as direções com as galáxias se afastando umas das outras. Essa expansão teria
se originado a partir da singularidade , um ponto matemático de densidade
infinita.
Em
1929, o astrônomo norte-americano Edwin Hubble (1189- 1953) fez uma descoberta
sensacional que trouxe a primeira prova a favor da tese da Grande Explosão. Com
o gigantesco telescópio do observatório do monte Wilson, na Califórnia, Hubble descobriu que o espectro da luz
proveniente das galáxias distantes apresentava um red-shift - desvio para o
vermelho - e que esse desvio era tanto maior quanto mais distante estivesse a
galáxia, observada em relação à nossa própria galáxia, a Via Láctea.A
explicação deHubble era de que este fenômeno se devia ao
efeito Dopler, bastante conhecido pelos físicos desde o século passado.
A conclusão ficava evidente. Se a luz desviava para o vermelho era porque essas galáxias estavam se afastando de nós, e se esse desvio era tanto maior quanto mais longe estivesse a galáxia, isso significava que a velocidade de afastamento crescia com a distância. Para um astrônomo situado numa galáxia distante, também a luz emitida pela Via Láctea apresentaria um desvio para o vermelho. Pois é o Universo como um todo que está em expansão.Ora, se tudo está se afastando no Universo, é possível imaginar uma época remotíssima em que tudo estivesse extremamente próximo. Essa seria a época do Big Bang. Quando isso pode ter ocorrido? O termo que relaciona a velocidade de afastamento ou recessão das galáxias com a distância é conhecido como constante de Hubble. O tempo desde o início da expansão, calculado a partir da constante, dá algo entre 15 e 20 bilhões de anos.
A conclusão ficava evidente. Se a luz desviava para o vermelho era porque essas galáxias estavam se afastando de nós, e se esse desvio era tanto maior quanto mais longe estivesse a galáxia, isso significava que a velocidade de afastamento crescia com a distância. Para um astrônomo situado numa galáxia distante, também a luz emitida pela Via Láctea apresentaria um desvio para o vermelho. Pois é o Universo como um todo que está em expansão.Ora, se tudo está se afastando no Universo, é possível imaginar uma época remotíssima em que tudo estivesse extremamente próximo. Essa seria a época do Big Bang. Quando isso pode ter ocorrido? O termo que relaciona a velocidade de afastamento ou recessão das galáxias com a distância é conhecido como constante de Hubble. O tempo desde o início da expansão, calculado a partir da constante, dá algo entre 15 e 20 bilhões de anos.
A
descoberta de Hubble trouxe um poderoso argumento a favor
do Big Bang. Não foi, porém, um argumento conclusivo. Tanto assim que, no final
dos anos 40, quem propusesse um modelo alternativo, aTeoria do Estado Estacionário (veja quadro na
página 42): Em 1964, porém uma descoberta puramente acidental iria representar
um golpe demolidor nesse modelo rival.
Dois
radiastrônomos, o germano-americano Arno Penzias e o norte-americano Robert Wilson.
trabalhando com uma gigantesca antena de sete metros da Bell Telephone dos
Estados Unidos descobriram um fraquíssimo ruido de rádio que vinha de todas as
direções do céu ao mesmo tempo. Ao longo dos meses. embora 05 movimentos de
rotação e translaçao da Terra voltassem a antena para todas as regiões do
firmamento. o sinal mantinha sua intrigante regularidade.
Finalmente. Penzias e Wilson tomaram conhecimento de que
na prestigiosa Universidade de Princeton um grupo de físicos liderados por
Robert Dicke havia deduzido teoricamente a existência de uma fraquíssima
radiação de fundo. que deveria preencher uniformemente o espaço. Seria uma
espécie de resíduo fossil da superesc aldante sopa cósmica de matéria e energia
que. pela Teoria do Big Bang. constituía o Universo
pouco tempo depois da Grande Explosão. Com a expansão do Universo. a densidade
da energia teria diminuído progressivamente. o que provocou um resfriamento -
pelo mesmo motivo que um gás. ao se expandir. resfria —. até chegar a uma
temperatura de aproximadamente três graus Kelvin. poupo acima do zero absoluto.
Em
condições normais, o átomo é formado por três partículas elementares: próton,
elétron e nêutron. Delas porém, talvez apenas o elétron possa ser considerado
realmente elementar; o próton e o nêutron seriam constituídos de partículas
ainda menores - os quarks.Se fosse possível empreender uma viagem de volta à
origem do Universo, quando se chegasse a cerca de 300 mil anos depois do Big
Bang, as temperaturas já seriam tão altas que romperiam as estruturas dos
átomos, arrancando os elétrons de suas nuvens em torno dos núcleos atômicos. Ao
se ultrapassar, nessa contagem regressiva, o terceiro minuto depois do Big
Bang, os próprios núcleos começariam a se desintegrar, liderando os prótons e
os nêutrons neles aprisionados. Na marca de um milionésimo de segundo depois do
Big Bang, até os prótons e nêutrons seriam fragmentados nos quarks que os
constituem.
Essa
viagem de volta à origem termina por enquanto no Tempo de
Planck, localizado, como vimos, apenas dez milionésimos de
bilionésimo de bilionésimo de bilionésimo de bilionésimo de segundo depois do
Big Bang. Os físicos especulam, porém, que, quando seu arsenal teórico permitir
ultrapassar a barreira doTempo de
Planck, talvez se encontre um Universo de insuperável simplicidade.
Toda a matéria se apresentaria sob a forma de um único tipo de partícula e as
quatro forças existentes no mundo atual - a gravitacional, a eletromagnética, a
nuclear forte e a nuclear fraca - estariam unificadas num mesmo tipo de força.
A própria distinção entre partícula e força provavelmente não teria qualquer
significado.Isso por ora é uma simples suposição. Mas a ciência tem dado passos
concretos para verificar sua validade.
A
unificação entre a força eletromagnética e nuclear fraca, proposta teoricamente
nos anos 60 pelos norte-americanos Steven Weinberg e Sheldon Lee Glashow e pelo
paquistanês Abdus Salam - os três ganhadores do prêmio Nobel de Física de 1979 - foi confirmada em 1983, com
a descoberta das partículas que transportam a forca nuclear fraca, previstas
pela teoria da unificação.
Essa
descoberta, que deu ao italiano Carlo Rubbia 0 Nobel de Física de 1984, foi obtida no gigantesco
acelerador de partículas da Organização Européia de Pesquisas Nucleares (CERN).
localizada em Genebra. Suíça, e envolveu um nível de energia igual ao que
poderia ser encontrado na Universo primitivo dez bilionésimos de segundo depois
do Big Bang. Assim, a teoria e a experimentação vão nos aproximando
cada vez mais da origem do Universo. Nessa escalada do conhecimento, o zero é o
limite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário